Situada aos pés da Serra do Caraça e resguardada pelo contraforte da serra do espinhaço, Catas Altas integra o Circuito do Ouro ao longo da Estrada Real. A cidade está a 139 quilômetros do centro de Belo Horizonte.
A formação do povoado que deu origem ao atual município começou a ocorrer no final do século XVII, por volta de 1694, com a descoberta de ricas minas auríferas mais tardes denominadas de Catas Altas.
O historiador Salomão de Vasconcelos afirma que quase nada se conhece a respeito dos verdadeiros descobridores da região onde está localizado o município e sobre a fundação de Catas Altas. Mas, em anotações, atribui-se a Domingos Borges a fundação do arraial em 1703.
A história de Catas Altas, assim como de diversas cidades mineiras, está relacionada com o ciclo da mineração no século XVIII. O nome “Catas Altas” provém das profundas escavações que se faziam no alto dos morros. A palavra “catas” significa garimpo, escavação mais ou menos profunda, conforme a natureza do terreno para a mineração.
Foto: Arquivo Público Mineiro
No povoado, as catas, os garimpos, as minas mais ricas e produtivas, estavam situadas nas partes mais altas, isto é, se encontravam no alto da serra e por isso, a atual cidade ficou conhecida como Catas Altas. “O povo vendo que cada vez mais o ouro estava diminuindo nos leitos dos rios e córregos, e com abundância nas partes altas, diziam: ‘as catas estão altas’, ‘as catas estão ficando em lugares mais altos’, ‘as catas estão em lugares de mais difícil acesso’”.
Em 1712 ocorreu o primeiro registro de batismo em uma Capela de menor porte com invocação à Nossa Senhora da Conceição. Em 1729, teve início a construção da atual Igreja Matriz de mesma invocação, substituindo a antiga capela.
A Atual Igreja Matriz pertence à segunda fase do barroco e permanece com seu interior inacabado, possibilitando aos visitantes conhecerem as etapas de construção e sua policromia, tornando-se um dos mais importantes ícones da arquitetura e ornamentação do Brasil neste estilo.
Durante o ciclo da mineração, Catas Altas foi um dos mais ricos e populosos arraiais de Minas Gerais. Com o esgotamento das minas, o arraial ficou praticamente abandonado. Em 1868, chega a Catas Altas o Monsenhor Manuel Mendes Pereira de Vasconcelos para ser o vigário do arraial. Logo percebe o estado lastimável em que se encontrava o lugar, além do abatimento moral estampado nos rostos dos poucos moradores que ainda não haviam emigrado. O padre nota ainda a ausência de qualquer forma de cultura de subsistência. Milho, arroz, feijão, toucinho, tudo é provido pelos tropeiros.
O vigário chega à conclusão de que, além da escassez do ouro, as causas de tamanha decadência foram as ações assistencialistas que criaram uma perniciosa acomodação ao distribuir tudo que a população necessitava com hora e local marcado.
Monsenhor Mendes acreditava que, para provocar mudanças drásticas, era necessário educar as pessoas, ensinar a cultura de subsistência e desenvolver o conceito da vida em comunidade. Depois de encontrar uma muda de videira americana na casa de um amigo, Monsenhor Mendes descobre ser possível produzir até mesmo o vinho que necessita nas missas ao encontrar.
Então, ele passa a ensinar o povo como plantar as videiras, as épocas das podas, das colheitas, como esmagar as uvas, o período de fermentação, o armazenamento adequado para não acontecer nenhuma alteração.
E assim, o vigário conseguiu que a produção do vinho de Catas Altas aumentasse cada vez mais, sempre com melhor qualidade. Em 1884, Monsenhor Mendes publicou um manuscrito com “as noções úteis ao fabricante de vinho”, contendo informações sobre o feitio da bebida, as diferenças dos vários processos empregados e a prevenção junto ao fabricante contra práticas que podem estragar o vinho. O padre acaba ganhando a mídia nacional e faz Minas Gerais sair do anonimato na produção de vinhos. O vinho de Catas Altas era comparado por autoridades no assunto com o Porto e o Xerez.
Monsenhor Mendes se torna um conhecido viticultor, sempre defendendo a videira americana e a qualidade do vinho produzido em Catas Altas. “Confrontada com a videira Laprusca, explorada pelos europeus, a nossa videira americana, espalhada em tanta profusão por estas Catas Altas, será sempre a preferida por muitas razões. A sua uva uma vez que esteja perfeitamente madura e, embora produzida pelas videiras muito próximas a seu estado selvagem, é notada pelo cheiro balsâmico e pelo sabor muito agradável e pronunciado”, anotou o padre.
A produção do vinho colaborou para que a população elevasse sua autoestima. Uns plantavam as videiras, outros fabricavam o vinho, outros comercializavam o produto, numa cadeia em que o dinheiro girava e todos saíam ganhando.
O vinho de Jabuticaba surgiu ainda no século XIX. O Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, publicou em fevereiro de 1889 uma reportagem sobre produções de vinhos nacionais e em um trecho cita as qualidades da bebida catas-altense: “há um vinho de jabuticaba, de Catas Altas, de um gosto singular”.
Intitulada “Exposição de açúcar e vinhos”, a matéria encerra uma série de artigos sobre os diversos ramos da indústria nacional. A reportagem citada conta um pouco sobre a história da produção do vinho no Brasil, e os produtos feitos na então província de Minas Gerais.
Antes, as jabuticabas eram utilizadas para licor, o que muito se encontrava nas casas tradicionais do arraial.
Nos dias de hoje, Catas Altas vive da mineração de ferro e tem o turismo como uma alternativa de renda e sustentabilidade, garantindo as futuras gerações as paisagens naturais e plena harmonia entre economia, geração de renda e qualidade de vida.
É formada pelos bairros Centro, Santa Quitéria, Vista Alegre, Sol Nascente, pelo distrito do Morro D’Água Quente e comunidades rurais: Valéria, Paciência, Mato Grosso, Bitencourt, Jararaca, Japonês, Satil, Carioca e Córrego da Lage.
Patrimônio Histórico
O conjunto arquitetônico barroco formado não só pela Igreja da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, mas também por casas antigas ao redor da Praça Monsenhor Mendes, entre outras construções, traz para o presente a história do passado desta pequena e bucólica cidade mineira.
Para proteger este rico acervo histórico, cultural e religioso, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA) tombou todo o perímetro urbano de Catas Altas. O conjunto arquitetônico e paisagístico do Santuário do Caraça, a Praça Monsenhor Mendes e a Igreja Nossa Senhora da Conceição são tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Além disso, o Parque do Caraça, de propriedade da Província Brasileira da Congregação da Missão, situado no município de Catas Altas (parte dele em Santa Bárbara), também foi transformado em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), medida que visa preservar a área.
O tombamento do acervo é importante porque impede que as construções antigas sejam substituídas ou modificadas, paralisando o processo de destruição das preciosas construções, e preserva a memória da cidade.
Antes desta medida legal, várias construções foram destruídas, como o prédio da antiga escola (onde é hoje a Escola Municipal Agnes Pereira Machado) o solar dos “Ayres” que pertencia à família do comerciante Sr. João Martins Ayres, o solar dos “Alves da Silva” que pertencia ao comerciante, fabricante de vinho, Vereador e Major Antônio Alves da Silva, o chalé dos “Alves Pereira” que pertencia ao agenciador e açougueiro Sr. Argemiro Pereira da Cunha, o chalé do Sr. José do Espírito Santo, e outros.
Catas Altas é, sem dúvida, uma cidade privilegiada: ao perceber a importância da identidade cultural de seu povo para construção da cidadania e da nação, afirma-se como uma enciclopédia viva de sua própria história e da história de Minas Gerais.
Catas Altas atualmente é uma cidade histórica de Minas Gerais e conta com várias pousadas/restaurantes que ajudam em seu desenvolvimento.
História do Morro D’Água Quente
O povoado nasceu com a chegada de uma família vinda diretamente de Portugal e passou a extrair ouro na região, no século XVIII. Um dos membros desta família, o português Domingos Vieira da Silva, casou-se em Catas Altas com Rosa Maria Barbosa e foi morar, inicialmente, em Santa Bárbara.
Domingos Vieira foi o proprietário do Casarão, onde hoje funciona a Prefeitura, e teve muitos filhos, todos apontados como mineradores da Mina do Bananal, que foi uma das mais ricas do Morro D’Água Quente. Na época, a mina pertencia ao senhor Domingos Vieira e ao seu filho, o Guarda-Mor Inocêncio Vieira da Silva.
Segundo informações do Padre José Evangelista de Souza, catas-altenses e autor de diversos livros, “na metade do século XIX, as minas do Morro na Fazenda do Bananal foram vendidas aos ingleses para a mesma companhia inglesa que havia comprado a Mina do Gongo Soco do Barão de Catas Altas”.
O nome do povoado, segundo escritos do naturalista Auguste de Saint Hilaire em 1887, em sua passagem por Catas Altas, originou-se justamente das fontes termais que existiam outrora nas proximidades e que foram destruídas pelas escavações lá feitas, na ânsia de se encontrar mais ouro. A fonte termal que deu origem ao nome foi soterrada por um desabamento.
Hoje, no Morro D’Água Quente, o patrimônio histórico – com construções antigas e a Capela de Nosso Senhor do Bomfim, devidamente preservadas – convive com uma infraestrutura que busca garantir a qualidade de vida da comunidade.